Mostrando postagens com marcador análise de estilo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador análise de estilo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Análise de estilo: Hank Marvin

Quem foi o herói da guitarra original ?!

Está aí uma pergunta difícil, se formos regredir até a década de 60 podemos pensar em Jimi Hendrix, Eric Clapton, ou, voltando ainda mais, talvez George Harrison, ou talvez alguém ainda mais antigo, da época do rockabilly como Chuck Berry, Buddy Holly ou James Burton e Scott Moore, guitarristas de Elvis...

Mas existiu uma banda inglesa chamada The Shadows, formada no fim dos anos 50 que teve uma enorme importância na história do Rock, pois,  além de ter popularizado o formato do grupo de instrumentos elétricos com baixo, bateria e guitarra, lançou dezenas de singles de enorme sucesso.

O trabalho da banda era interessante pois lançavam basicamente singles instrumentais (embora pudessem cantar muito bem, se necessário) com melodias e arranjos muito bem elaborados.

Mas... O mais impactante do The Shadows era o seu guitarrista solo, o lendário Hank Marvin ! Esse cara foi o primeiro inglês a comprar uma Fender Stratocaster, um instrumento que aos olhos da época mais parecia uma arma alienígena, enlouquecendo uma plateia onde estavam todos os futuros grandes da guitarra inglesa, como Jeff Beck e Tony Iommi !

Não sei dizer que foi o "original guitar hero" mas garanto que se você perguntar isso a um inglês ele vai apontar para Hank!

E o que podemos aprender com Hank Marvin ? Primeiro vamos prestar atenção ao seu timbre clean único, formado por camadas de delay, chegando no inconfundível "som submarino" !

Outra característica interessante é que os solos Hank são muito mais vinculados às melodias cuidadosamente construídas e aos arranjos, embora ele seja um grande improvisador quando quer.

Mas a maior característica de Hank Marvin é o seu domínio da alavanca da Fender Stratocaster, reparem, ele não larga a alavanca quase que em momento nenhum e usa ela em quase todas as notas que toca ! Na minha opinião ele é o melhor do mundo nisso, pela sutileza com que manipula a ponte, criando notas e efeitos tremendamente expressivos !

Aprender as músicas do The Shadows também é uma grande maneira de treinar a interpretação na guitarra !

Vamos ver então um show de 2004 com o The Shadows original e Hank (sim, ele é a cara do Bill Gates !), com a sua eterna Strat Fiesta Red quebrando tudo, menos a alavanca, rs...

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Análise de estilo: Jeff Pevar

Temos muitos caras bons hoje, é tanta gente tocando bem que fica difícil se impressionar com um solo de guitarra... Mas se tem uma coisa que me impressiona e MUITO em um guitarrista é a intensidade e domínio sobre a dinâmica, o controle absoluto sobre a dimensão sonora e a experiência do ouvinte. Um cara que realmente faz isso é o Jeff Beck, por isso sentimos que estamos diante de um guitarrista único quando o vemos tocar !

Mas, felizmente, Jeff Beck não é o único, Jeff Pevar é um guitarrista americano bem sucedido que acompanhou grandes nomes  e músico de estúdio muito requisitado, possui um comando absurdo da sensitividade e da dinâmica, um dom que está acima que qualquer desenvolvimento técnico.

Vamos ver James Pevar em dois vídeos, no primeiro (de 1998) ele toca com a lenda do country rock David Crosby e o maestro James Raymond (que depois de adulto descobriu ser filho de Crosby !), interpretando a maravilhosa "Deja Vu". O solo de James começa aos 6:03 minutos mas o melhor mesmo é escutar a performance completa do grupo e os vocais perfeitos de Crosby e Jeff Pevar. Não tenho nem como comentar o solo que esse cara fez, isso está em outro nível de musicalidade !




No segundo vídeo, bem mais recente, aparentemente gravado em um workshop, ele toca e canta uma versão estrelar de "Little Wing", comparem com a que vocês pensam ser a melhor !




sábado, 1 de agosto de 2015

Frank Zappa e o significado perdido da genialidade

Olá !



Nos anos 60, se você escutasse a palavra 'gênio' usada no contexto do universo do Rock, provavelmente estaria escutando uma referência a alguém como John Lennon, Pete Townsend ou Jimi Hendrix. Sem a menor dúvida foram gênios que mudaram não somente a sonoridade mas também os valores do seu tempo. E tivemos ainda pelo menos uma dúzia de outros músicos que mereceriam com toda a justiça a deferência que a palavra 'gênio' comporta. Até pelo menos a primeira metade dos anos 70, assistimos a uma tamanha explosão de talento que chegava a beirar o desperdício, assim, a genialidade era quase a regra, não a exceção.

Mas tudo que é bom acaba... Aos poucos, o mundo do Rock foi sendo invadido por um exército de mediocridades, em um movimento que sinalizou o início da decadência musical que resultaria nessas 'maravilhas' que estamos sujeitos a escutar se ligarmos o rádio hoje...

Mas, a medida em que a arte piorava, a palavra 'gênio' era usada cada vez mais ! Nos anos 80, todo mundo era gênio...  Prince era gênio, Washington Olivetto era gênio, até Terence Trent D'Arby (who ?!) era gênio ! Se Andy Wharol, o eterno árbitro da fama efêmera, tivesse especulado um pouco  mais poderia ter pontificado que todos seriam gênios por 15 minutos !

A verdade é  que a palavra 'gênio' se vulgarizou. Se perguntássemos ao 'Mad Men'  Don Draper o que seria um 'gênio', talvez ele nos dissesse que 'é aquilo que caras como eu inventam para que você compre gato por lebre !'.

Mas aí então pergunto: que palavra poderíamos usar para classificar um camarada que era um virtuose absoluto da guitarra, um maestro que utilizava as estruturas mais complexas da música clássica de vanguarda e do free jazz como base do seu trabalho, que já nos anos 60 aplicava modalismo, compassos exóticos e arranjos ultra sofisticados, e, ao mesmo tempo, não abria mão de um humor absolutamente cáustico, iconoclasta, pornográfico mesmo em suas letras, cumprindo o mandamento número um do Rock, que é não se levar a sério ?!

E mais, para nós, guitarristas, Frank Zappa deixou o melhor conselho que alguém poderia dar a um guitarrista: 'Shut Up 'n Play Yer Guitar' !

A verdade é que um artista assim era muito difícil de se compreender ou classificar. Muito mais fácil era apenas amá-lo, curtir a figuraça incrível que ele foi  e delirar com aquela fantástica viagem sonora que ele nos entregava !

Assim era Frank Vincent Zappa (1940-1993). Alguém que poderia ter passado para a história como o maior guitarrista que o Rock já teve mas sua música e sua lenda foram tão grandes que isso deixou de ser relevante. Era um gênio.



É isso, abç a todos !

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Análise de estilo: Romero Lubambo e o violão brasileiro no jazz

Amigos,

No último sábado tiver o prazer de assistir um show de Romero Lubambo e comprovar ao vivo que estava diante de um dos maiores guitarrista da atualidade. Carioca, radicado há mais de 20 anos nos EUA, se tornando merecidamente um dos mais respeitados músicos no circuito mundial do jazz e da música instrumental.


Pode parecer estranho para alguns um brasileiro tocando jazz mas garanto que nenhum americano ou europeu se surpreende com esse fato, isso porque a nossa bossa nova, que tão bem incorporou as harmonias jazzísticas, conquistou o mundo a partir dos anos 60 e hoje, representa uma parte muito significativa de qualquer repertório jazzístico. Dessa maneira, o Brasil se tornou o segundo país mais importante no jazz, atrás apenas dos EUA.

A guitarra brasileira (vamos lembrar que guitarra e violão são o mesmo instrumento !) também há muito já conquistou os EUA e o mundo, nomes como Laurindo Almeida, Bola Sete, Toquinho, Toninho Horta e Baden Powell são mais do que conhecidos fora do Brasil.

No caso do Romero, o que impressiona é versatilidade com que ele transita entre o violão brasileiro e os estilos de jazz tradicional. Como falei antes, as harmonias da bossa nova são afins com as do jazz, porém, nossos instrumentistas costumam improvisar em um contexto bem mais melódico que os jazzistas tradicionais. Mas o Romero consegue adaptar muito bem essas diversas referências estilísticas de acordo com o contexto em que toca, mantendo sempre sua fluidez impressionante e sua personalidade em todos os seus improvisos. Essa capacidade de assimilação é o seu diferencial, embora tenhamos grandes jazzistas no Brasil, considero que apenas Romero Lubambo e Helio Delmiro chegaram nesse nível.

Vou colocar dois vídeos incríveis de uma apresentação do Romero com o grande Cesar Camargo Mariano, o primeiro, "No Rancho Fundo", o improviso do Romero é uma joia em si, mostrando bem a arte de construir um solo, começando devagar, aumentando depois a fluência e velocidade e finalizando com improviso em bloco de acordes. Vale a pena também escutar a gravação original dessa música, onde a guitarra foi tocada por Helio Delmiro.



No segundo vídeo, "April Child", o improviso do Romero mostra bem todo o seu virtuosismo, usando muitos ligados e cromatismos:



Outra coisa que impressiona no Romero é como ele arrasa tanto no papel de "sideman", tocando no contexto de uma banda quanto como solista, tocando arranjos que mesclam chord melody, solos, linhas de baixo e tudo o mais, como nesse grande arranjo de "Influência do jazz", música de Carlos Lyra, uma obra prima de virtuosismo e bom gosto !



É brincadeira isso né ? Acho que eu vou tocar corneta...

E para finalizar, destaco o desempenho do Romero na guitarra elétrica, é verdade que a praia dele é mais o violão mas quando pega a guitarra, seja tocando com os dedos ou com a palheta, soa maravilhosamente bem, mostrando um completo domínio da dinâmica e sonoridade do instrumento elétrico !

Vamos ver isso nesse excelente especial, onde Romero toca em algumas músicas em uma bela Yamaha Pacifica Mike Stern signature, que aula de música essa apresentação !



É isso, abraços a todos !

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Análise de estilo: Greg Lake !

Pode parecer estranho falar de um músico que ficou famoso como cantor de voz puríssima e exímio baixista em um blog de guitarra mas o Mestre Greg Lake tem muito a ensinar ao guitarrista iniciante, em especial pela sonoridade única que consegue tirar do violão de cordas de aço, através de técnicas bastante pessoais.

Nascido em 1947, esse ícone do rock progressivo inglês começou a ser notado no álbum 'In Court of the Crimson King', da lendária banda King Crimson. Conta a lenda que Greg e Robert Fripp (falaremos nele no futuro !) eram amigos e tiveram o mesmo professor de guitarra, daí o convite para entrar na banda e também muitas técnicas de guitarra em comum, em especial a forma de palhetar os acordes.

Mas foi com o Emerson, Lake & Palmer que Greg escreveu seu nome na história do Rock progressivo, um incrível trio de músicos que soava como uma orquestra sinfônica completa, com composições extremamente sofisticadas que evocavam compositores clássicos de vanguarda, como Bela Bartok,  Stravinsky e Prokofieff.

Mas o que o guitarrista iniciante tem a aprender com Greg lake ? Em primeiro lugar,  o cuidado com a sonoridade acústica. Greg Lake sempre se refere a si mesmo como um 'guitarrista rockeiro da velha guarda', segundo ele, era um discípulo de Hank Marvin, 'com strat vermelha e tudo mais', mas, mesmo sendo integrante do trio mais eletrificado de toda a história do Rock, definiu a sonoridade acústica do Rock com suas composições maravilhosas.

Vamos analisar aqui a interpretação de Greg da sua maravilhosa composição 'The Sage', incluída originalmente no álbum 'Pictures at an Exhibition'. Vejam o vídeo, é uma composição com forte influência do violão clássico. Notem como Greg consegue tirar um som inconfundível do violão Gibson, soa quase como um cravo, percebam como ele palheta os acordes, 'sweepando' para baixo e alternando a palhetada para cima. Sem essa técnica, você não consegue tirar essa sonoridade cristalina do violão de cordas de aço. Outra coisa que merece atenção é a técnica de 'hybrid picking' de Greg, tocando ao mesmo tempo com a palheta e com os dedos, vejam que incrível, olhem que música linda !



Outro vídeo que mostra, além das técnicas citadas acima, o uso de afinações alternativas no violão é a maravilhosa 'Still.. You Turn Me On'. Notem como a linha vocal é perfeitamente harmonizada pelo arranjo de violão:



Mas mesmo sendo um mestre da sonoridade acústica, Greg também arrasava na guitarra elétrica quando era preciso ! Vejam essa incrível performance do ELP em 'Karn Evil 9', com um grande solo do Greg (Paul Gilbert gravou um cover desse solo !) e o deus da bateria, Carl Palmer, quebrando tudo !



Greg Lake continua em atividade até hoje, infelizmente a sua voz puríssima ficou comprometida com os anos, talvez um pouco pela obesidade, porém, quando está mais enxuto, Greg ainda consegue cantar maravilhosamente, como nessa apresentação de sua linda composição 'I Believe In Father Christmas', tocada em uma igreja no natal de 2011 e ainda com a participação de outra lenda do Rock progressivo, o eterno Ian Anderson na flauta, imagino o que deve ter sido para os presentes a emoção de escutar essa voz lendária ressoando em toda a sua pureza na catedral, esse é um dos melhores vídeos do youtube !





É isso, não existe maior prazer do que falar dos nossos heróis, abraços a todos !

sábado, 12 de julho de 2014

Análise de estilo: Cornell Dupree !

Cornell Dupree (1942 - 2011) foi um veterano que marcou a história do Rhythm and Blues americano, tendo participado de centenas de gravações e apresentações históricas e influenciado gerações de guitarristas que adotaram a música negra americana como a base do seu estilo.



Seu início foi batalhando no lendário chitlin'n circuit, acompanhando os grandes nomes da música negra em ascensão, olha, você tinha que ser muito bom para conseguir um emprego ali, no caso de Cornell Dupree quem costuma disputar a vaga de guitarrista com ele era o próprio Jimi Hendrix, na época ainda um desconhecido, já imaginou ?!! Mas vez por outra, acontecia de Cornell Dupree e Hendrix integrarem a mesma banda, onde botavam para quebrar, vejam !


Em tantos anos atuando como sideman, Cornell Dupree desenvolveu um estilo único que mistura o soul, blues, jazz, R&B, funky, rock'n roll, enfim uma síntese completa da música negra americana.

A sua maneira de tocar enfatiza os riffs rítmicos construídos em cima acordes, intervalos, double stops e oitavas, intercalando solos curtos com frases sempre muito melódicas ainda que permeada de cromatismos, o que confere um sabor "jazzy" nos seus improvisos. O uso frequente de frases com intenção maior às vezes lembra o fraseado característico do B.B. King. Impressionante também é a noção de tempo e ritmo desse cara. Chama a atenção ainda a maneira como ele ataca as cordas com os dedos, um modo de tocar mais encontrado na country music.

Percebam também como ele toca sempre em um contexto perfeitamente integrado à banda, mesmo quando é o dono da apresentação ele nunca tenta se sobressair mais do que os outros músicos, está aí uma coisa que todos os guitarristas deveriam aprender, a guitarra tem um papel definido dentro de uma banda e esse papel é na maioria das vezes mais rítmico do que tudo, tem guitarrista que acha que tem que solar alto e o tempo todo, um erro que nos dá a fama de malas entre os outros instrumentistas, e o que Cornell Dupree nos ensina é tocar para a banda !

Aqui, uma ótima lição para tocar como Cornell Dupree !

Então vamos assistir essa grande apresentação de Cornell Dupree gravada em Nova York, onde ainda toca o extraordinário baixista Will Lee e uma banda de feras !